Fotomontagem: Viomundo
Rubens Valente, autor do best
seller "Operação Banqueiro", jornalista da Folha de
São Paulo que é considerado um dos mais importantes e competentes repórteres
investigativos do País, revelou ontem, em matéria que já foi republicada pelos
sites Viomundo e Conversa Afiada,
que a morte de Paulo César Morato, foragido da Operação
Turbulência, que investiga um esquema milionário de lavagem de dinheiro
para políticos ligados ao Partido Socialista Brasileiro e
empresários, ocorrida supostamente em um motel, em Olinda (PE) não seria a
primeira envolta em mistérios e erros inexplicáveis atribuíveis àSecretaria
de Defesa Social do governo de Pernambuco, tendo como vítimas, integrantes
da organização criminosa investigada.
Leiam a matéria e tirem suas próprias
conclusões:
A morte suspeita do empresário Paulo César de Barros Morato, 47, em um
motel em Olinda (PE), não foi a única no mesmo grupo de investigados na
Operação Turbulência, deflagrada no último dia 21.
Há 11 anos, outro empresário ligado aos mesmos pivôs do esquema agora
apurado também foi encontrado morto em um suposto suicídio que nunca foi
confirmado nem afastado pela perícia da Polícia Civil do Recife (PE).
O empresário Rodrigo Arce tinha 43 anos em 7 de dezembro de 2005 quando
despencou do oitavo andar do edifício em que morava no bairro de Boa Viagem, na
capital pernambucana.
Seu corpo foi encontrado no fosso do sistema hidráulico e telefônico do
prédio.
Documentos obtidos pela Folha mostram que os peritos do
Instituto de Criminalística da Polícia Civil não chegaram a uma conclusão sobre
o que ocorreu. Citando “ação suicida” como mera “possibilidade”, os peritos
reconheceram que “não dispõem de elementos suficientes para afirmar a natureza
jurídica de sua morte”, ou seja, definir se houve suicídio ou homicídio.
Os peritos apontaram que o local foi “descaracterizado”, isto é, outras
pessoas apareceram antes da perícia e alteraram pontos importantes da cena,
como a tampa de vidro que protegia o fosso.
Ela foi encontrada “fora do caixilho”, em situação “de improviso”.
Exames na peça não conseguiram separar impressões digitais, pois houve
“sobreposição de impressões, formando borrões”.
Outras dúvidas residem em pequenas manchas de sangue encontradas na parede
do corredor que dava acesso ao fosso e um fio de cabelo achado preso na
proteção da abertura.
Os peritos não conseguiram concluir se eles pertenciam a Arce ou foram
produzidos “por outra pessoa lesionada na ocorrência ou não”.
Além da ausência de bilhete suicida, também restou inexplicado o fato de
Arce ter optado pelo fosso, embora seu apartamento dispusesse de varanda.
ALVO
Ao morrer, Arce também era alvo, a exemplo de Paulo Morato, de uma
investigação do Ministério Público Federal.
O caso nasceu de uma auditoria feita pela Receita Federal nas contas de
uma série de empresas importadoras de pneus da Ásia e que constituíam um grupo,
o Alpha.
Os auditores apontaram fraude tributária quando o grupo deixou “de
escriturar e oferecer à tributação receitas de sua atividade, com o intuito de
suprimir o pagamento de tributos” de 1997 a 2000.
Foi lavrado um auto de infração de R$ 72 milhões em 2003, ou R$ 152
milhões em valores atualizados.
A Procuradoria da República no Recife afirmou à Justiça Federal que fora
descoberto “um esquema extremamente engenhoso forjado pelos denunciados, os
quais construíram organização criminosa com sede nesta cidade e ramificações
operacionais em várias unidades da Federação, entre elas Brasília (DF), Salvador
(BA) e Fortaleza (CE), e ainda na cidade de Miami”, nos EUA.
A reportagem localizou duas firmas offshore geridas em Miami por Rodrigo
Arce, que era casado com uma norte-americana e tinha três filhos.
Entre 2002 e 2005, antes de morrer, Rodrigo Arce foi denunciado e
tornou-se réu no mesmo processo ao lado dos empresários Apolo Santana Vieira,
53, e de Matteo Bologna, 56.
Vieira e Bologna foram alvos importantes da Operação Turbulência,
deflagrada pela PF e Ministério Público para investigar uso de diversas
empresas de fachada para financiamento eleitoral ilícito.
Vieira foi preso preventivamente e Bologna, de nacionalidade italiana
que nasceu em Caracas e teve um passaporte expedido por Palermo, na Itália, foi
alvo de condução coercitiva, além de ter os endereços revistados pela PF.
Em uma denúncia sobre o grupo feita em 2009 por sete procuradores da
República, Rodrigo Arce, que já havia morrido quatro anos antes, foi descrito
como um dos “diretores” do grupo empresarial que operou entre 1997 e 2000, ao
lado de Vieira, Bologna e de um irmão de Rodrigo, Marco Arce, nascido nos EUA,
naturalizado brasileiro e que na época também se tornou réu ao lado dos outros
acusados.
Localizado pela Folha por telefone, Marco não levantou a tese de que seu
irmão foi assassinado, mas reconheceu: “Pelo que me lembro, não foi constatado
nem suicídio nem ‘não suicídio’. Ficou uma coisa em dúvida, ninguém sabe
exatamente o que aconteceu. Mas não existe nenhum mal estar com relação à
família de saber o que aconteceu. Aconteceu um acidente, ou proposital ou não
proposital, e ele faleceu”. Indagado se na época Arce sofreu alguma ameaça, o
irmão repetiu que “aconteceu um acidente” e que “a família não tem dúvidas”.
Na denúncia anterior à Turbulência, os procuradores apontaram que ao longo
de dez anos o grupo operou uma série de “mudanças societárias e constituição de
novas pessoas jurídicas” com “o claro intuito de dificultar o trabalho do
fisco, da polícia judiciária, do Ministério Público Federal e do Poder
Judiciário”. “Também é sinal das manobras fraudulentas a larga utilização de
empregados e ex-empregados das empresas como sócios ostensivos de outras
delas.”
CENÁRIO SEMELHANTE
Paulo Morato, que foi encontrado morto no motel, aparece na Turbulência
como suspeito de operar um cenário semelhante ao identificado anteriormente.
Segundo a PF, Morato era dono da empresa Câmara & Vasconcelos, que
recebeu R$ 18,8 milhões da construtora OAS e comprou um avião usado na campanha
presidencial de Eduardo Campos (PSB-PE) em 2014. O avião caiu em agosto daquele
ano, matando Campos e os outros ocupantes.
OUTRO LADO
Marco Arce afirmou que “todos os casos e investigações” abertos pelo
Ministério Público sobre eventuais crimes tributários foram encerrados, com o
arquivamento das acusações. “Não somos mais réus, já acabou tudo”, disse.
A reportagem localizou decisões judiciais que determinaram a extinção de
processos porque o Judiciário considerou que as investigações partiram de uma
“quebra de sigilo” feita pela Receita Federal, o que foi considerado ilegal.
Os advogados de Vieira e Bologna, procurados ao longo da semana passada,
não foram localizados.
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